“O que temos de concreto num momento poderá não existir num futuro próximo! Como podemos identificar o que é verdadeiro e o que é falso?” Esta foi uma reflexão da artista sobre questões políticas e o contexto em que estamos vivendo. Toda crise gera rupturas, quebra de paradigmas, reinvenção do modo de pensar e de se relacionar. As estruturas sociais antigas, sólidas e palpáveis, não funcionam mais! E sobre o novo, ainda não temos respostas, estamos em processo. As incertezas geram um sentimento de angústia sobre o futuro.
A artista cria a série O Concreto e o Incerto para materializar seus questionamentos. A primeira peça criada para uma exposição coletiva no Centro Cultural Subte em Montevidéu, no ano passado, desencadeou esta nova série composta por 06 pinturas, 04 objetos de parede e 01 escultura. O conjunto do trabalho revela a poética da artista que desperta interesse sobre a representação do espaço, da perspectiva, da tridimensionalidade e dos efeitos de luz e sombra. São pinturas a partir de imagens da arquitetura de interiores ou de prédios que foram desconstruídos, fragmentados, alterando formas e cores. A artista brinca com a ilusão, usa como referência a obra do artista holandês Escher. Ela elabora seus trabalhos estabelecendo uma quebra na perspectiva, onde há algo na estrutura que não condiz com a realidade, um elemento que falta ou que fica suspenso no espaço.
Os objetos elaborados em MDF e caixas de acrílico com folhas de ouro, prata e bronze trazem para o espaço o sólido, o palpável, o CONCRETO. É uma pintura que se transforma em objeto, que ganha corpo e significado, como na série Sarrafo da artista Mira Schendel. Esta tendência da artista em materializar e dar um corpo a pintura já havia se revelado na sua série anterior, Lapidações, e agora se torna mais evidente. A pintura descola cada vez mais da parede até virar escultura, apesar da artista ainda considerá-la pintura. Se são pinturas ou esculturas, neste contexto não há relevância, pois são classificações que não servem mais, diante do conceito que o conjunto da obra nos traz.
Ana Mähler tem olhar de pintora e herdou este olhar da artista Vera Wildner. Ela produziu esta série, e todas as anteriores, sob sua orientação. Em homenagem a sua mestra, Mähler intitulou uma das obras da exposição de “Nada”, referência ao trabalho de Wildner. Esta obra estava em desenvolvimento no atelier Estággio, onde Vera Wildner ministrava e suas aulas e orientava alguns artistas, quando ela faleceu, em outubro de 2017.
Instalação, MDF com pintura acrílica e pó de mármore, acrílico transparente com folha de ouro, de prata e de cobre.

The Concrete and the Uncertain, I, II and III
“What is concrete on a given moment might not exist on the near future. How can we tell what's real and what's fake?” This is a reflection from the artist about political matters and the context we’re currently living. All crisis generates ruptures, changes paradigms, demands reinvention of the way of thinking and relating. The old social structures, solid and palpable, no longer work and we don’t yet have replies about the new, all is still in process. The uncertainties generate a feeling of anguish towards the future. The artist has created the series The Concrete and the Uncertain to materialize her reflections. The first piece, created for a collective exhibition at Centro Cultural Subte in Montevideo in 2016, has unleashed this new series composed by 6 paintings, 4 wall objects and 1 sculpture. The works combined reveal the poetic of the artist that shows interest on representing the space, the perspective the three dimensions and the effects of light and shadow. Those paintings come from images of architecture of interior design or buildings deconstructed, fragmented, altering shapes and colors. The artist plays with the illusion and uses as reference the work of Dutch artist Escher. She elaborates her work establishing a rupture in perspective, where something in the structure doesn’t match the reality, an element that lacks or is suspended. The objects are made with MDF and acrylic boxes with gold, silver and copper sheet and bring the palpable, the CONCRETE to the solid space. It’s a painting that turns into an object that gains a body and a meaning, as on the series “Sarrafo” by artist Mira Schendel. This trend from the artist to materialize and give body to painting had already been revealed on the previous Lapidation Series and now becomes more evident. The painting comes out the wall more and more until turning into a sculpture, even though the artist still considers it a painting. If the pieces are paintings or sculptures, there's no relevance on this context, it would be obsolete classification considering the concept that the works combined bring us. Ana Mähler has the optic of a painter, inherited from artist Vera Wildner. She has produced this and all previous series under Vera's orientation. To pay a homage to her master, Mähler has named one of the works of the exhibition “Nada”, a reference to the work of Wildner that was work in progress at atelier Estággio, where Vera Wildner used to teach and orient some artists when she passed away, in October 2017. Installation, MDF with acrylic painting and marble powder, clear transparent acrylic with gold, silver and copper sheet.